Inversão de papéis: crianças da pré-escola entrevistam jornalistas

Unidade: Florianópolis | 26 Sep 2016

Quem dá aula, como é o meu caso, já está acostumada a falar em público. Às vezes, dependendo do lugar, ainda sinto um frio na barriga, um receio de chegar na hora e esquecer o assunto, ou me atrapalhar por conta do nervosismo. Desta vez, entretanto, minha dúvida era outra: como conversar sobre jornalismo com crianças de cinco e seis anos de idade?

O convite partiu do Colégio Logosófico González Pecotche, de Florianópolis. A turma do Infantil 5 está começando a conhecer o mundo letrado e a despertar o  interesse pela escrita. As professoras estão apresentando aos pequenos os diferentes gêneros textuais. Ao estudar sobre a poluição dos mares, escolheram o gênero textual reportagem para ampliar os conhecimentos.

Os alunos assistiram reportagens em vídeo e impressas. Foi então que surgiu o convite para que duas jornalistas (Gisele Kakuta e eu) visitássemos a turma e contássemos um pouco sobre nossa profissão às crianças. Confesso que fiquei muito curiosa, porque nunca havia conversado sobre jornalismo com alunos tão novinhos. E posso afirmar que foi uma experiência incrível.

Dizemos sempre que as crianças estão cada dia mais espertas, e que só falta nascerem falando. É verdade. Incrível. Mal começamos a falar e já fomos cravejadas de perguntas _ todas pertinentes e no contexto, aliás. Quando nós duas contamos que já tínhamos ido à África e que depois fizemos reportagens sobre a experiência, por exemplo, os meninos ficaram excitadíssimos.

_ Vocês viram leão, zebra, rinoceronte, crocodilo?

_ Eles não atacaram vocês?

_ Eles estavam soltos?

Cada indagação respondida gerava um novo questionamento. Ô turminha curiosa e participativa! Fiquei encantada. Contei que quando comecei a trabalhar, muitos e muitos anos atrás, não existia computador. Era máquina de escrever. Muitas crianças, para minha surpresa, disseram conhecer o obsoleto objeto.

_ Meu avô tem uma máquina dessas na fazenda _ disse um.

_ Eu vi no museu, a gente bota o papel e depois as letras saem como se fossem um carimbo _ disse outro. Eu nunca tinha pensado nisso, mas ele tem toda a razão. Parecia um carimbo.

Depois foi a nossa vez de perguntar sobre a profissão que eles gostariam de seguir. É impressionante como crianças tão pequenas ficaram impactadas com as Olimpíadas. Três deles disseram que querem trabalhar nos jogos quando crescerem, só não sabem fazendo o quê. Muitos meninos, lógico, sonham em ser jogadores de futebol. A maioria ainda tem dúvidas. Um deles respondeu, muito tempo depois de já termos mudado de assunto, que quer ser goleiro. Acho que ele ficou matutando sobre o assunto, até se decidir. Eles levaram mesmo a sério o nosso questionamento.

Agora, esta turma vai fazer o seu próprio jornalzinho, com a ajuda das professoras, até porque recém estão ingressando no mundo da escrita e da leitura. A pauta da matéria principal já foi definida: a poluição nas praias, e, para isso, vão conferir pessoalmente a situação, como verdadeiros repórteres.  Não tenho a menor dúvida de que, entre aqueles meninos e meninas, muitos seriam excelentes jornalistas no futuro. Quem sabe?

Fonte: Viviane Benvilacqua (Diário Catarinense)

Documento em anexo: Coluna da jornalista Viviane Benvilacqua