A Família numa cultura em decadência

Autor(a): Francisco Liberato Póvoa
Diretor Geral da Unidade Funcionários

O clima do nosso planeta, deste belo planeta que Deus fez, é a grande preocupação do momento atual. Mas falemos um pouco do clima do mundo, do mundo que os homens fizeram.

Apesar de tanto já se ter escrito sobre a família, nossos sentimentos estão sempre a nos exigir uma reflexão a mais. Que outra reflexão, porém, poderíamos adicionar às análises já conhecidas, aos tantos artigos lidos, às considerações e comentários espalhados pelo mundo?

De várias fontes nos chega, com alguma frequência, a declaração de que a família se encontra mesmo em decadência. Afirma-se, até, que estão surgindo novos padrões, outros modelos, opções mais modernas, configurações mais satisfatórias, tudo em obediência aos chamados “novos tempos”.

De nossa parte, seguimos indagando se, de fato, a universal e milenar instituição da família estaria em decadência. Ou se decadentes estariam, mais propriamente, os valores da cultura atual, do Ocidente e do Oriente, que já se mostram incapazes de manter de pé a família que os terráqueos puderam um dia conceber, instituir e amar. Noutras palavras, não seria a propalada decadência um reflexo da desorientação em que mergulharam homens e mulheres da atual civilização, ensejando problemas de contornos colossais para a manutenção dos seus valores não-materiais?

A mente concorda com o coração quando este diz a ela que família é, sobretudo, exercício do afeto; que família é, mais que tudo, aprendizado e ensino do amor. Dois seres, por atração física e afetiva, e por afinidades diversas, se aproximam, se vinculam e chegam a conceber a possibilidade de uma união estável. Nessa estabilidade deverão apoiar seus passos futuros, se quiserem suportar com êxito os trabalhos e os sacrifícios que uma família demanda, em compensação das mil vantagens e venturas que ela oferece, quando bem estruturada. É nesse ambiente de conciliação entre duas dimensões da existência humana, a dimensão coletiva e a individual, que os sentimentos podem ser cultivados. De fato, é no amor dos pais, entre os pais e aos pais, assim como no amor de irmão a irmão, que se aprende a amar a Deus e aos semelhantes. Em se tratando de amor, ainda não se inventou nada igual, nada sequer parecido...

Se aprofundarmos nossa análise, constataremos que a origem da instituição familiar não é humana. O homem não inventou a família. Ela lhe é preexistente, podendo ser vista entre os animais, as plantas, em diversas moléculas da vida animada. A mesma sentença está escrita no reino mineral, e está escrita inclusive no firmamento, pois que os astros também estão organizados em famílias. A família constitui, portanto, uma instituição universal, sobrepondo-se aos valores de culturas e civilizações, guardando bem nítido, em todos os tempos e lugares, o selo de sua origem divina. Ao homem, isso sim, por sua condição de ser inteligente e consciente, coube a tarefa de conceber, instituir e manter a organização familiar humana, à luz do princípio universal.

Hoje em dia, quando mais e mais pessoas e povos se preocupam profundamente com o clima do planeta, caberia dizer que o clima do homem, que o clima espiritual do mundo, depende em tudo do clima familiar. As relações sociais são uma derivação das relações familiares, assim como as relações mantidas no ambiente familiar se refletem no comportamento do indivíduo consigo mesmo e com as pessoas em geral. Famílias bem estruturadas e bem constituídas fazem confiar num mundo assim, bem estruturado e bem constituído, um mundo melhor.

Especificamente sobre os cabeças da família, não podemos perder de vista que a ideia conjugal está presente no ser humano por própria reação das forças criadoras e sustentadoras da espécie. Conclui-se, por conseguinte, que todos nós levamos impresso no sangue o mandado supremo da perpetuidade, e é justamente na família que esse mandado se materializa.

A exemplo do que acontece com tudo dentro da Criação, também a instituição familiar guarda aspectos transcendentes e significados evolutivos que ainda precisamos estudar e compreender. Não vamos reduzi-la à ideia – defendida por uns, contestada por outros – de uma simples união de dois seres sob o mesmo teto.  Tampouco esqueceremos que o que é normal para uma época nem sempre é normal para a vida. Ainda que a cultura desmorone, ainda que os valores dessa cultura morram, a família continuará existindo em seu arquétipo universal e eterno, como um convite permanente cuja existência não depende do clima da terra, nem tampouco do clima do homem, do clima do mundo.