Usar a arte para pensar de que forma o conhecimento do mundo mental, onde tem origem as ideias e pensamentos ─ logo, onde se formam os conceitos e preconceitos ─, nos ajuda a entender como são construídas socialmente as relações étnico-raciais. Essa foi a principal proposta do trabalho desenvolvido pela professora de Artes Michela Anne com alunos da Unidade Rio de Janeiro.
"Queríamos sensibilizar os alunos para a necessidade da construção de relações éticas para uma sociedade mais justa e humana, e possibilitar produções plásticas, valorizando a estética da cultura africana, afro-brasileira e indígena, em atenção às leis 10.639/03 e 11.645/08", explicou Michela.
A docente conta que, no imaginário popular, quando se fala em “Arte Africana”, vem logo à mente estátuas além das máscaras africanas, como uma manifestação artística primitiva e sempre ligada a rituais religiosos. A arte indígena, lembra a professora, é também considerada como algo menor, com status de artesanato e folclore. "Todos esses objetos, sob o olhar eurocêntrico secular, são carregados de preconceitos que impedem uma apreciação valorizada dessa arte. Sendo o Brasil um país multiétnico e pluricultural, cabe ao docente ampliar o foco do currículo para a diversidade cultural, racial, social e econômica brasileira", defende.
Para Michela, o projeto pedagógico deste ano vem sendo uma rica oportunidade para a construção (docente e discente) de um saber sobre nós mesmos, sobre a realidade dos pensamentos que penetram e influenciam nossas vidas. "Com essas atividades, constatamos que existe uma escuridão no que condiz ao nosso mundo interno".
A partir de rodas de conversas os alunos foram descobrindo o quanto de preconceito carregam algumas palavras muito comumente usadas para definir negros e indígenas, por exemplo. Em outro momento, eles estudaram as etnias indígenas Marajoara e Tapajós e, a partir do grafismo realizaram trabalhos plásticos. A produção da artista Sul-africana Esther Mahlangu, que pertence à comunidade Ndebele de Gauteng, ao norte de Pretoria, também foi conhecida. Todas as atividades foram realizadas de forma coletiva.
"Essa experiência possibilita colocar em diálogo a contribuição do negro nas artes plásticas. Em geral, quando se pensa nessa contribuição, vem logo à mente música, samba, carnaval, mas dificilmente as artes plásticas", analisa. "Diferente da arte indígena e afro, a arte europeia já é amplamente divulgada e ilustrada nos didáticos de história e artes. Como os alunos participaram de todas as atividades propostas, optamos por criar um painel coletivo com a releitura dos azulejos portugueses", acrescenta a professora de artes do Colégio Logosófico no Rio de Janeiro.
A produção dos alunos foi exposta durante o "Encontro das Famílias" e alguns dos resultados podem ser vistos nas imagens a seguir.