Para onde vai a Escola? Para onde vai a Família?

Autor(a): Marise Alencar
Docente da Unidade Funcionários

Participar de congressos, ler, estudar, concluir graduações, pós-graduações, mestrados, enfim, tudo isso significa muitos estímulos e novos conhecimentos para um educador. Numa dessas maratonas para capacitar-me, ouvi uma explicação do que significava a palavra “aluno”. Levei um susto. Cheguei a ficar um pouco pensativa por alguns segundos, após o que ouvi. Em latim, “aluno” significa sem luz.

Como concordar com este significado se, em minha trajetória de educadora, o que não faltaram foram alunos cheios de luz, inteligência, vontade de aprender e de perguntar? E como mãe, observando a minha filha crescendo e desenvolvendo-se com alegria e muita energia (não seria isso um tipo de luz?) não via nada desta triste definição.

Refletindo sobre a educação, que é um dos meus deveres já que sou educadora, qual é o papel da escola? Qual é a escola que deve surgir para atender os novos alunos, que de “sem luz” nada têm? E de onde têm vindo estes alunos? De que famílias surgiram? Que seres os colocaram no mundo? O que temos feito como família? E o que temos feito como escola?

A escola precisa ser auxiliar, parceira, uma grande orquestra que, com esforços e talentos, tem o objetivo do sucesso escolar de seus alunos. Escola precisa ter projeto próprio e, seus docentes, também seus projetos individuais. Escola lida com pessoas das mais variadas crenças, costumes, manias. Pessoas com dificuldades e facilidades para aprender e ensinar. A escola cuida, informa, lida com o conhecimento. Lá dentro, há professores e alunos. Não há escola sem professor, nem professor sem aluno. Os dois são a alma dessa instituição. Para o aluno aprender bem, precisa ter professor que aprende bem. Professor e aluno que querem saber o porquê das coisas, o como, o quando, o para quê.

Para isso, a escola precisa ensinar a pensar. Pensar para que seu aluno seja único, seja criativo. Pensar é habilidade só dos humanos. É isso que mostra a nossa individualidade: que cada um é único e faz de um jeito próprio as suas coisas. Nós, da escola, precisamos ocupar menos a nossa memória e de nossos alunos. Hoje, tudo o que é memoriável o computador faz para nós. Precisamos guardar só o que realmente é importante. A escola precisa fazer as pazes com a avaliação.

Recordo de Rubem Alves, que sabiamente ensinou: “para educar bem-te-vi preciso gostar de bem-te-vi, respeitar seu gosto, não ter projeto para transformá-lo em urubu. Se assim insistir, um bem-te-vi será sempre um urubu de segunda categoria”. A escola tem o péssimo hábito de mandar o aluno esperar. O aluno faz uma pergunta e o professor diz: “Espere. Daqui a pouco chegaremos a essa parte.” Ou então o aluno quer fazer diferente, e o professor valoriza quem fez igual. O papel da escola é prender a atenção do aluno. Hoje, o aluno vai a qualquer banca de jornal e tem acesso a revistas científicas. A informação não pede para que ele espere. A grande qualidade da escola não será o conteúdo, será o espaço de convivência e troca entre os conteúdos que cada um sabe. A escola precisa ser a escola da vivência, das experiências. Ser a escola das relações, o lugar onde o aluno é seduzido para querer ficar lá, lugar de motivação.

Ao pensar nessas coisas tão importantes, recordava-me de muitos elementos da Pedagogia Logosófica. De tudo o que já compreendo, sobre o verdadeiro porquê de sermos seres humanos, da grande missão que temos de aprender e ensinar, dos planos para uma humanidade melhor e mais preparada. Enfim, pensei muito em todo o trabalho que tenho pela frente como educadora.

E para onde a escola vai? Penso que vai para onde o homem for capaz de levá-la. E para que este seja um destino acertado e melhor, só mesmo à custa de muito conhecimento, muito afeto e disposição. E o mais importante: longe dos muitos preconceitos que ainda pairam no ar, como que fantasmas das nossas escolas medievais.

E a família? O que vem acontecendo com este tesouro humano? Para onde vai a família? É certo que há muitos, mas muitos pais esforçados, presentes, atuantes. Temos visto famílias muito boas. Mas coisas que eram tão comuns, tão boas de fazer em família, têm se tornado raridade. Uns culpam a televisão. Outros a saída da mulher para trabalhar. Ainda há aqueles que dizem que não há filhos com antigamente. Mas quem é que faz a família? Quem inventou a família? Venho compreendendo que a família é algo divino. É a base de toda sociedade bem organizada. É necessária para a nossa preservação como espécie e para subsistirmos como seres que possuem laços de afeto e de intensos sentimentos.

É por isso que, ao pensar em educação, não consigo esquecer dessas duas instituições: família e escola. São dois pólos: fortes, cada uma com sua especificidade. Um não faz o que o outro faz. Não podem competir, podem se encontrar!

Ao ler uma afirmativa da Logosofia, que diz “os filhotes que se lançam a voar deixando o ninho antes de ter as asas emplumadas, correm o perigo de cair e bater a cabeça. Poder-se-ia objetar que se não fizessem esse ensaio, não aprenderiam a voar; mas o certo é que o ensaio prematu­ro costuma custar-lhes a quebra de uma asa, dos pés, da cabe­ça, etc. Muito diferente acontece quando as aves genitoras os conduzem, primeiro de raminho em raminho, depois de galho em galho, prolongando mais e mais as distâncias à medida que os filhotes, longe de debilitarem-se, adquirem força, pois um dia, com a arrogância própria dos pássaros que cumpriram o processo de seu desenvolvimento, conseguirão efetuar já mag­níficos vôos, sem o perigo de cair rendidos pelo cansaço ou outras causas.”

Para onde vai a família? Para onde os seres humanos levarem-na. É por isso que nesta oficina imensa, onde todos precisam colaborar a aprender a amar seus pais e irmãos. Precisamos educar. E educar o outro é a tarefa humana mais digna depois que cada um propõe a educar-se.